doenças inflamatórias intestinais

Tratamento de doenças inflamatórias intestinais e eficácia da mesalazina no tratamento da colite ulcerativa.

Doenças Inflamatórias Intestinais

A princípio, as doenças inflamatórias intestinais podem se dar de forma localizada em uma pequena porção do trato digestivo ou estendida em todo o trato gastrointestinal. Sendo assim, pode acometer indivíduos em qualquer idade e podendo levar a significativo impacto na qualidade de vida, a mesalazina é uma alternativa promissora no tratamento de doenças inflamatórias intestinais, especialmente, da colite ulcerativa.

O que é a colite ulcerativa

A colite ulcerativa (CU) é uma doença inflamatória crônica que afeta a região do cólon intestinal, de causa desconhecida, caracterizada por intervalos de atividade e ausência da doença, em 80 a 90% dos pacientes. O principal objetivo do tratamento é manter a remissão da doença.

Importância do tratamento da colite ulcerativa

Devido a condição clínica afetar a mucosa intestinal, o padrão alimentar desse paciente pode vir a ser de extrema importância para controle dos sintomas e também para a manutenção de estado nutricional adequado.

(Moteleone et al., 2006; Ye & Langenberg, 2015; Tenjarla, 2015)

Mesalazina no tratamento de doenças inflamatórias intestinais

Ademais, o ácido 5-aminosalicílico (5-ASA), ou mesalazina, tem sido a terapia padrão, na terapêutica da colite ulcerativa de intensidade média a moderada. Tem mostrado ser eficaz na manutenção e remissão de sintomas da colite ulcerativa, pois, consegue reduzir a expressão de prostaglandinas e leucotrienos, inibindo, desse modo o processo inflamatório.

(Watanabe et al., 2013a; Ye & Langenberg, 2015; Tenjarla, 2015)

Modo de atuação da mesalazina

Sua ação anti-inflamatória, se dá por meio da inibição da prostaglandina sintetase na mucosa ileal, colônica e retal. A princípio a sua atuação é local, bloqueando a síntese de prostaglandinas e diminuindo a produção dos metabólitos do ácido araquidônico, que estão elevados nos pacientes com doenças inflamatórias intestinais.

(Ye & Langenberg, 2015)

Benefícios da mesalazina sobre as doenças inflamatórias intestinais

Mesalazina na colite ulcerativa 

De acordo com estudo conduzido por Watanabe e colaboradores (2013a)  o  uso de supositórios de mesalazina foi avaliada em pacientes com colite ulcerativa (CU) e inflamação retal em um estudo multicêntrico de fase III, duplo-cego e controlado por placebo. Sendo assim, os pacientes selecionados foram orientados a utilizar 1 g de mesalazina ou placebo, ambos em supositórios.

Ademais, o supositório foi administrado uma vez ao dia durante 4 semanas, via retal.

Como resultado

  • Com efeito, os resultados foram eficazes, sendo a remissão de 81,5% nos pacientes que fizeram uso da mesalazina em contrapartida, apenas 29,7% do grupo placebo apresentaram resultados positivos.
  • O grupo em uso da mesalazina teve significativo resultado na redução da hemorragia comparado ao grupo placebo, desde o terceiro dia de tratamento.

Estudo II

Segurança e efetividade da mesalazina na colite ulcerativa

Conforme outro estudo conduzido por Watanabe e colaboradores (2013b) avaliou-se por meio de estudo duplo-cego, 301 pacientes com CU comparou o tratamento com mesalazina oral em doses de 1,5 a 2,25g/dia, na posologia de uma vez ao dia (1 x) ou três vezes ao dia (3x) por 52 semanas. O objetivo foi avaliar se a remissão foi mantida depois das 52 semanas da administração ou somente até o momento da interrupção do tratamento.

Resultados

  • A proporção de pacientes ainda em remissão após as 52 semanas foi de 79,4% no grupo que utilizou 1 x ao dia e 71,6% no grupo que fez uso em 3 x ao dia.
  • Quanto a segurança, a incidência de efeitos adversos foi de 72,4% no grupo e 76,5% no grupo TD, mostrando pouca diferença entre os 2 grupos.
  • Em termos de manutenção da remissão os 2 grupos não apresentaram diferenças significativas, apesar da ocorrência de efeitos adversos ter sido menor no grupo que utilizou a mesalazina 1x ao dia.

Estudo III

Efetividade da mesalazina na colite ulcerativa

De acordo com Flourié e colaboradores (2013), em um estudo realizado com um total de 206 pacientes com CU, foi avaliado a utilização de mesalazina em diferentes posologias. Foi utilizada uma dose diária de 4g de mesalazina e duas doses diárias (2x) de 2 g de mesalazina, durante 8 semanas. Todos os pacientes também utilizaram enema de mesalazina 1 g ao dia.

Resultado

  • Na cicatrização da mucosa intestinal

Mostrou melhora significativa da doença em 92% dos indivíduos em uso de somente uma dose ao dia quando comparada ao grupo que fez a utilização de duas doses diárias (79%).

Entretanto, na cicatrização da mucosa, resultados apontaram para uma melhora de 87,5% no grupo 1x e 71,1%no grupo 2x.

  • Quanto a segurança e tolerância da mesalazina

Similarmente, a segurança foi similar entre os dois grupos, o tempo de remissão foi de 26 dias no grupo que utilizou 4 g diário e 28 dias para aquele grupo que fez utilização de 2 g duas vezes ao dia.

Quando combinado com o enema, a mesalazina em dose diária de 4g foi tão efetiva e bem tolerada quanto em duas doses diárias, na indução da remissão em pacientes com CU de média a moderada.

Mesalazina na quimioprevenção do câncer coloretal

O câncer coloretal (CCR) é uma das formas mais comuns de neoplasia maligna no mundo. O mecanismo que promove o sustento da carcinogênese no cólon ainda não é conhecido, embora exista uma evidência da complexa interação entre a carcinogênese e as alterações genéticas que facilitam a proliferação celular desordenada, como é o caso da colite ulcerativa.

Devido a isso, a remissão da colite ulcerativa com o uso da mesalazina pode ser uma potencial alternativa quimiopreventiva. A mesalazina é o medicamento de escolha para a manutenção da remissão em pacientes com CU, reduzindo também a incidência de câncer colón retal relacionado a CU.

(Stolfi et al., 2008; Ye & Langenberg, 2015)

Mesalazina sobre a carcinogênese

A mesalazina pode interferir no crescimento celular no CCR a fim de afetar a sobrevivência celular através de mecanismos independentes e dependentes de COX.

Além disso, ela inibe a produção de TNF-α/IL-1β induzida pela expressão de COX-2 em linhagens de células de CCR, e com efeito atua na redução da síntese de PEG2 e bem como no crescimento celular.

Mecanismo da mesalazina sobre o processo de carcinogênese

A mesalazina suprime a fosforilação/ativação dos RFCE em cultura de células humanas de CCR (ex vivo) e em linhagens de células de CCR, e seu efeito inibitório não se deve a clivagem do receptor ou pela inibição da síntese de seus ligantes, em contrapartida a mesalazina aumenta a atividade da proteína tirosina fosfatase que regula negativamente a ativação dos RFCE, reduzindo desse modo a mecanismos ligados a proliferação celular desordenada.

(Moteleone et al., 2006; Stolfi et al., 2008; Ye & Langenberg, 2015)

A conclusão

Inegavelmente, a mesalazina, primordialmente, tem o potencial de reduzir processos inflamatórios ligados a colite ulcerativa, mostrando resultados significativos no controle e /ou remissão da CU.

Além disso, demonstrou potencial atividade redutora em processos de proliferação celular exacerbado, sendo uma potencial alternativa para reduzir a incidência de câncer de colón retal em decorrência da CU.

Referências

Flourié, B., Hagège, H., Tucat, G., Maetz, D., Hébuterne, X., … Kuyvenhoven, J. P. (2013). Randomised clinical trial: once- vs. twice-daily prolonged-release mesalazine for active ulcerative colitis. Alimentary Pharmacology & Therapeutics, 37(8), 767-75.

Monteleone, G., Fina, D., Caruso, R., & Pallone, F. (2006). New mediators of immunity and inflammation in inflammatory bowel disease. Current Opinion in Gastroenterology, 22(4), 361–64.

Stolfi, C., Pellegrini, R., Franze, E., Pallone, F., & Monteleone, G. (2008). Molecular basis of the potential of mesalazine to prevent colorectal cancer. World journal of gastroenterology, 14(28), 4434–39.

Tenjarla S. (2015). Dissolution of Commercially Available Mesalamine Formulations at Various pH Levels. Drugs in R&D, 15(2), 211–21.

Ye, B., & van Langenberg, D. R. (2015). Mesalazine preparations for the treatment of ulcerative colitis: Are all created equal?. World journal of gastrointestinal pharmacology and therapeutics, 6(4), 137–44.

Watanabe, M., Nishino, H., Sameshima, Y., Ota, A., Nakamura, S., & Hibi, T. (2013). Randomised clinical trial: evaluation of the efficacy of mesalazine (mesalamine) suppositories in patients with ulcerative colitis and active rectal inflammation – a placebo-controlled study. Alimentary Pharmacology & Therapeutics, 38(3), 264–273.

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