A acne é uma desordem inflamatória crônica da unidade pilossebacea, em síntese, é caracterizada por pápulas, pústulas, comedões abertos e fechados inflamados, cistos ou nódulos, e em virtude de demandar por múltiplos alvos, seu tratamento pode requerer a intervenção de diversos fatores, e esta é realizada de acordo com, a sua classificação (leve, moderada e severa).
Fatores relevantes no desenvolvimento da acne
A patofisiologia da acne é complexa, por isso envolve diferentes fatores, entre eles estão
- Primordialmente, está associada a excesso da produção de sebo
- A hiperceratose folicular
- Desordem hormonal (hiperandrogenismo e SOP)
- Com efeito, a colonização e proliferação de microrganismos (Cuticubacterium acnes) é um dos grandes interferentes
- Elevada expressão de mediadores da inflamação e também da oxidação lipídica.
Ribera, 2011; Leyden, 2003
Públicos afetados
A acne é uma das desordens da pele mais comum vista na prática dermatológica e afeta cerca de 85% dos adolescentes e jovens adultos. Embora, seja mais comum em pacientes com idade entre 12 e 24 anos, afeta também públicos de outras idades, por certo, tem uma prevalência de 8% em adultos entre 25 e 34 anos, e 3% com idade entre 35 e 44 anos.
Acne durante a gravidez
Decerto, devido a alterações hormonais durante a gestação, algumas pacientes podem ter o desenvolvimento de acne no período da gestação e a mesma pode levar ao comprometimento psicológico da gestante, pois, dependendo da forma que a acne se apresentar, pode agravar marcas e cicatrizes na pele.
Além disso, a acne pode desenvolver infecções secundárias, dessa forma, é interessante tratar e/ou prevenir com a escolha de fármacos seguros para a terapêutica da acne em gestantes.
Alternativas terapêuticas para acne
Ademais, existem diversas alternativas de tratamento da acne, primordialmente, leva-se em consideração a forma e a gravidade das lesões, não apenas para as alternativas de primeira escolha, mas também para os tratamentos alternativos. Em contrapartida, na terapêutica de manutenção, inclui-se alternativas terapêuticas para tratar, especialmente, a acne recorrente e também as cicatrizes de lesões acneicas.
Ribera et al., 2011; Ghalli et al., 2009
Possíveis opções para tratamento da acne em gestantes
Alternativas de primeira escolha
As opções para tratamento da acne em gestantes são o peróxido de benzoila e o ácido azeláico de aplicação tópica.
Opções para o segundo semestre da gestação
A saber, o uso de corticoide sistêmico ou eritromicina sistêmica podem ser empregados a partir do segundo semestre de gestação, ao passo que, para os casos de erupções graves, o tratamento deve ser indicado e acompanhado por profissional médico.
O zinco oral é outra opção, mas não pode ser utilizado por mais de 3 meses. Medidas cosméticas com a aplicação de procedimentos estéticos também podem ser utilizadas, incluindo peeling com ácido glicólico ou ácido alfa-hidróxido.
Não deve ser utilizado durante a gestação
- A tetraciclina de uso sistêmico, doxiciclina, minociclina e isotretinoína são tratamentos que não podem ser utilizados em gestantes.
- Em contraste, peelings de ácido salicílico e ácido tricloroacético não podem ser utilizados nestas pacientes.
Leyden, 2003; Bayerl et al., 2013
Tratamento da acne com retinoides tópicos
Tretinoína
Acima de tudo, os retinóides de uso tópico são considerados alternativa primária no tratamento de acne vulgaris. A tretinoína tem sido utilizada como agente comedolítico para o tratamento de acne de grau leve a moderada, ao estimular o desenvolvimento celular, como também a desobstrução de poros e o equilíbrio da oleosidade da pele.
Mecanismo de ação de retinoides no tratamento da acne
De acordo com as suas caracaterísticas, a tretinoína normaliza a esfoliação do epitélio folicular (unidade pilosebácea), previne a adesão folicular, ao mesmo tempo, leva a drenagem e a expulsão do excesso de sebo e de C. acnes. Seu uso clínico pode beneficiar, principalmente, como anti-inflamatório.
Além disso, quando a tretinoína é combinada com agentes antibacterianos, tais como eritromicina, peróxido de benzoila e clindamicina, tem sido associada terapêutica tópica para tratamento da acne.
Associação de antibacteriano e retinoide no tratamento da acne
Estudos mostram que a combinação de fosfato de clindamicina a 1,2% + tretinoína a 0,025% em gel tópico mostrou ser eficaz no tratamento de acne vulgaris, bem como para tratar a acne papulo postulosa em quadros de rosácea classificados de moderada a grave.
Nicholas, 2011; Chang et al., 2012
Estudo I
Outro estudo comparou 2 combinações de duas substâncias no tratamento da acne, durante 21 dias. Foram utilizados a clindamicina a 1,2% associada a tretinoína 0,025% em gel, na outra associação continha peróxido de benzoíla a 2,5% associado ao adapaleno a 0,1%.
Como resultado
Em síntese, a análise dos dos resultados mostraram que a associação de clindamicina a 1,2% associada a tretinoína a 0,025% produziu ardência e prurido menor que a outra associação.
Além disso, a perda de água transepidermal mostrou ser menor quando utilizada a primeira associação (clindamicina a 1,2% + tretinoína a 0,025%). Entretanto, não houve nenhuma diferença significativa sobre o eritema, o ressecamento/descamação da pele, ao uso das 2 formulações.
Goreshi et al., 2012
Como minimizar a irritação cutânea ao uso de retinoides
Primordialmente, a irritação cutânea é o efeito adverso mais frequente durante o tratamento com retinoides e ocorre em, aproximadamente, 85% dos pacientes, o que faz com que, cerca de 15% dos pacientes cheguem a abandonar o tratamento.
Eficácia do ácido retinoico
Com a finalidade de tentar minimizar esse efeito, foi avaliada a aplicação de tretinoína a 0,05% em creme para sensibilização por contato por curto período, com uma aplicação diária de 30 minutos.
Conforme, estudo desenvolvido por Veraldi e colaboradores (2013) 74 pacientes fizeram aplicação diária de ácido retinoico durante um período que variou de 8 a 32 semanas.
Resultado
- Uma melhora clínica significativa foi observada em 55,4% dos pacientes, apenas 17,6% desenvolveram uma leve irritação cutânea
- Apenas 5,4% dos pacientes desistiram do tratamento devido à irritação cutânea
- A irritação cutânea foi minimizada com esta forma de sensibilização prévia, a eficácia do ácido retinóico foi reduzida utilizado esta forma parece ser melhorada quando comparada a modalidade padrão
- Logo, esta forma de aplicação possui uma boa tolerabilidade, e esta leva a maior adesão do paciente ao tratamento.
Estudo II
Ácido retinoico e aloe vera
Outro estudo utilizou a associação de tretinoína (0,05%) com gel de aloe vera (50%), para o alívio da irritação cutânea. Foram avaliadas lesões inflamatórias e não-inflamatórias de 60 pessoas com acne de grau leve a moderada, durante de 8 semanas.
A terapia combinada mostrou eficácia superior ao controle e redução das pontuações das lesões não inflamatórias (P=0,001), inflamatória (P=0,011) e total (P=0,003)
Saeeedi et al., 2013
Clindamicina e associações
A combinação de dose fixa de Clindamicina 1% e peróxido de benzoíla 5% em gel promove um inicio de ação mais rápido e mais efetivo contra lesões faciais inflamatórias e total, que o Adapaleno 0,1% em gel, no tratamento da acne. A adição de ácido salicílico a esta combinação mostra um tratamento significativamente melhor e mais rápido em termos de redução do número de lesões e é bem tolerado.
Estudo III
Eficácia de clindamicina e peróxido de benzoíla
Um estudo realizado com 337 adolescentes com pele escura (12 a 18 anos), receberam uma combinação fixa de fosfato de clindamicina a 1,2% e peróxido de benzoíla a 2,5% em gel ou placebo, 1 vez ao dia por 12 semanas, para determinar a utilidade do tratamento de acne moderada a grave, nestes pacientes.
Como resultados
- De acordo com os resultados, foi evidenciado redução das lesões inflamatória e não-inflamatória
- Com efeito significativo, foi identificada baixa incidência de eventos adversos, mostrando boa tolerância cutânea
- Em suma, a associação de clindamicina e peróxido de benzoíla tem se mostrado eficaz, segura e bem tolerada para tratar a acne de moderada e severa em adolescentes com pele escura.
Eichenfield et al., 2012
Ácido azeláico e associações
O ácido azeláico tópico em gel (15%) é reconhecido por sua atividade na redução da atividade da tirosinase, podendo ser uma opção de tratamento adequada contra a acne de leve a moderada, principalmente, quando associada a hiperpigmentação pós-inflamatória de moderada a severa, em indivíduos de pele escura.
Pacientes negros têm um risco maior de desenvolver este tipo de hiperpigmentação, visto que estes pacientes podem ter glândulas sebáceas maiores e aumento da produção de sebo, podendo o ácido azeláico ser utilizado de forma eficaz no tratamento destes.
Kircik, 2011
Ácido azeláico + clindamicina
Um estudo avaliou a associação de ácido azeláico a 5% e clindamicina a 2% em gel no tratamento de acne vulgaris, por 12 semanas. Ao final do tratamento, observou-se que houve uma redução significativa (p<0,01) no número total da lesão dos pacientes.
Além disso, 85,71% das mulheres mostram-se muito satisfeitas com o tratamento. Assim, essa associação pode ser uma alternativa efetiva para o tratamento da acne.
Pazoki-Toroudi, 2011
Ácido azeláico + eritromicina
Outra associação do ácido azeláico 5% agora com eritromicina 2% em gel, comparado com a utilização dos fármacos isolados, foi avaliada em 12 semanas de tratamento.
Os resultados mostram que a associação reduziu significativamente (p<0,001) o número de pápulas, pústulas e comedões comparado com os fármacos isolados, além da incidência de eventos adversos ter sido menor
Pazoki-Toroudi, 2010
REFERÊNCIAS
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