Microbiota vaginal
Os Lactobacillus são, normalmente, os microrganismos mais prevalentes no conteúdo vaginal de mulheres saudáveis em menacme. Estes exercem importante influência no ecossistema local ao protegerem a mucosa contra o estabelecimento de patógenos, incluindo aqueles associados à vaginose bacteriana (Li et al., 2020).
Os Lactobacillus conferem proteção a mucosa vaginal por diferentes mecanismos, dentre os quais podemos citar: produção de substâncias com ação inibitória sobre microrganismos patogênicos (ácido lático, bacteriocina, substâncias semelhantes a bacteriocina, peróxido de hidrogênio, dentre outras); competição com os patógenos por sítios de ligação às células epiteliais vaginais e modulação da resposta imunológica local (Figura 1-A).
O rompimento do equilíbrio microbiológico do ecossistema vaginal parece ser a base fisiopatológica para muitas doenças ginecológicas de mulheres em idade reprodutiva, em especial, a vaginose bacteriana. Assim sendo, é indiscutível que o tratamento deve incluir a correção da disbiose local sem causar um impacto negativo sobre a microbiota lactobacilar residente (Figura 1-B).
Figura 1. Microbiota vaginal e imunidade. (A) A microbiota vaginal em um indivíduo saudável é dominada por Lactobacillus spp. Os Lactobacillus spp. produzem ácido láctico, bem como compostos antimicrobianos para controlar o crescimento de microrganismos. Outros fatores solúveis, como peptídeos antimicrobianos (AMPs), lectinas ligantes de manose (MBLs) e imunoglobulinas (Igs), contribuem para a imunidade homeostática da superfície vaginal. Além disso, a vigilância de comensais e microrganismos patogênicos é realizada por receptores de reconhecimento de padrões (PRRs).
(B) Em casos de ruptura da microbiota vaginal, como a vaginose bacteriana, os microrganismos do tipo IV no estado comunitário predominam para iniciar uma resposta inflamatória. Os ácidos graxos de cadeia curta produzidos por esses microrganismos provavelmente induzem a produção de citocinas pró-inflamatórias. IL-33 foi recentemente identificada como a citocina chave em associação com a modulação da imunidade antiviral pelo microbioma vaginal. IL-33 também é responsável pela resposta imune do tipo Th2 induzida por proteases que são secretadas por microrganismos patogênicos
(PARK & LEE, 2018)
Vaginose bacteriana
É caracterizada por um desequilíbrio da microbiota vaginal normal, com diminuição acentuada ou desaparecimento de lactobacilos (Lactobacillus spp) e aumento de bactérias anaeróbias, especialmente a Gardnerella vaginalis.
É a causa mais comum de corrimento vaginal, afetando cerca de 10% a 30% das gestantes e 10% das mulheres atendidas na atenção básica. Em alguns casos, pode ser assintomática (BRASIL, 2015).
Tratamento da vaginose bacteriana
O tratamento clássico para infecções bacterianas vaginais é baseado na utilização de antibióticos que tem por objetivo eliminar o agente etiológico da doença. No entanto, este tratamento é incompleto, pois não contribui para o reestabelecimento do equilíbrio da microbiota vaginal. Esta pode ser uma explicação para as altas taxas de recorrência de vaginose bacteriana com a utilização dos tratamentos atualmente preconizados que inclui, apenas, a utlização de antimicrobianos (Li et al., 2020).
A utilização de probióticos, então, surge como uma alternativa à antibioticoterapia ou a sua complementação.
Neste post, apresentaremos o resumo de um estudo clínico recente que evidencia os benefícios da suplementação com probióticos para o tratamento da vaginose bacteriana.
Estudo
O objetivo do estudo conduzido por Russo e colaboradores (2019) foi avaliar a eficácia de uma mistura probiótica composta por Lactobacillus acidophillus e L. rhamnosus em combinação com lactoferrina como terapia adjuvante ao metronidazol em mulheres com vaginose bacteriana (VB) recorrente.
Tratou-se de um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo que incluiu 48 mulheres com idade entre 18 e 50 anos.
As voluntárias foram divididas aleatoriamente em dois grupos: (I – experimental) receberam metronidazol 500mg por via oral duas vezes ao dia por 7 dias; a partir do 7º dia receberam uma formulação contendo Lactobacillus acidophillus e L. rhamnosus em combinação com lactoferrina (n=24); (II – controle ) receberam metronidazol 500mg por via oral duas vezes ao dia por 7 dias; a partir do 7º dia receberam placebo (n=24).
O tratamento com a formulação probiótica, ou placebo, foi realizada por 10 dias consecutivos e se repetiu até o 6º mês de tratamento, iniciando sempre a partir do 1º dia do ciclo menstrual.
Resultados
O tratamento com a formulação probiótica em combinação com a lactoferrina, resultou em:
– melhora do corrimento vaginal (Figura 1);
– melhora da coceira (Figura 2);
– aumento do escore de Nugent, resultado de uma mudança no padrão microbiológico pelo aumento da quantidade de bastonetes Gram positivo o que indica uma restauração do equilíbrio da microbiota vaginal;
– menor taxa de recorrência de infecção.
Nenhum efeito adverso foi relatado.
Figura 2 – Resolução do corrimento vaginal em
mulheres tratadas com a formulação probiótica ou
placebo.
Figura 3 – Resolução da coceira vaginal em mulheres
tratadas com a formulação probiótica ou placebo.
T0: Linha de base; T2: Semana 3; T5: Semana 5
T0: Linha de base; T3: Semana 3; Barra clara: Grupo Controle
T1: Semana 1; T4: Semana 4; Barra escura: Grupo Experimental
Conclusão
Apoiado pelos resultados descritos acima, conclui-se que o tratamento complementar com L. acidophilus, L. rhamnosus e lactoferrina é seguro e contribui para a melhoria dos sintomas associados a vaginose bacterina, restauram o equilíbrio da microbiota vaginal e diminuem as taxas de recorrência.
Referências
BRASIL. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêut icas (PCDT). Atenção Integral ás Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. Ministério da Saúde, 2015.
LI, YUANYUE., et al. Vaginal Microbiota and HPV Infection: Novel Mechanistic Insights and Therapeutic Strategies. Infection and Drug Resistance, 2020.
PARK, YOUNG JOON., HEUNG KYU LEE. The Role of Skin and Orogenital Microbiota in Protective immunity and Chronic immune-Mediated inflammatory Disease. Frontiers in Immunology, 2018.
RUSSO, R., E, KARADJA., F, DE SETA. Evidence-based mixture containing Lactobacillus strains and lactoferrin to prevent recurrent bacterial vaginosis: a double blind, placebo controlled, randomised clinical trial.Beneficial Microbes, 10(1): 19-26, 2019.
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