Afinal, o que é intolerância a lactose?
A lactose é o açucar presente de forma abundante nos leites. É um dissacarídeo, ou seja, um tipo de açucar formado por duas moléculas menores, chamadas monossacarídeos, unidas entre si por uma ligação química. Os monossacarídeos que compõem a lactose são a galactose e glicose que estão ligadas por uma ligação glicosídica.
Por ser uma molécula grande, o organismo humano é incapaz de absorver a lactose.
Para que a absorção aconteça é necessária a participação de uma enzima denominada lactase que quebra a lactose em galactose e glicose. Essas, por sua vez, são absorvidas no intestino delgado.
Se a lactose não é quebrada, quando há deficiência parcial ou total da lactase, falamos que o indivíduo é intolerante a lactose. Neste caso, uma parte ou a totalidade da lactose não é abosrovida e alcança o intestino grosso.
No cólon, a lactose é fermentada pelas pelas bactérias da microbiota intestinal que liberam gases como produto da fermentação que são responsáveis pelos sinais e sintomas da intolerância à lactose, como pode ser visto na Figura 1.
Figura 1 – (A) a lactase hidrolisa a lactose. Não há sintomas de intolerância a lactose.
(B) a lactose não hidrolisada no intestino delgado é fermentada pelas bactérias
da microbiota do intestino grosso (cólon) e produzem gases, responsáveis pelos
sintomas da intolerância a lactose.
Manisfestações clínicas da intolerância a lactose
As manifestações clínicas são mais ou menos intensas dependendo da quantidade de lactose ingerida, do quantidade de lactase produzida pelo organismo, transito intestinal, idade do paciente e expressão do gene responsável pela síntese de lactase. Aparecem entre 30 minutos a 2 horas após a ingestão de laticíneos. As mais comuns são: inchaço abdominal, cólicas, gases, flatulência, diarreia, assaduras, náuseas, vômitos, cãimbras e algumas vezes constipação intestinal.
As doenças gastrointestinais funcionais (DGIF) são a causa mais comum de doenças gastrointestinais na população mundial. Os sintomas incluem dispepsia funcional, síndrome do sofrimento pós-prandial ou dor epiástrica, distúrbios intestinais (síndrome do intestino irritável), constipação, diarréia ou distensão abdominal.
No entanto, mesmo com um regime de dieta com restrição de lactose ou frutose, sintomas funcionais como constipação ou diarreia, distensão funcional ou dispepsia podem persistir.
Intolerância a lactose, microbiota intestinal e suplementação com probióticos
Como a fisiopatologia da intolerância a lactose inclui disbiose, faz todo sentido a suplementação com o uso de probióticos numa tentativa de reestabelecer o equilíbrio da microbiota gastrointestinal cuja composição pode ser alterada por vários fatores (estresse, estilo de vida, dieta, antibióticos, entre outros) e assim, promover alívio dos sintomas.
Neste post, apresentamos um estudo clínico recente que evidencia os benefícios da suplementação com probióticos para alívio dos sintomas associados a intolerância a lactose
Estudo
O estudo conduzido por Vitellio e colaboradores (2019) teve como objetivo investigar a eficácia da associação de Bifidobacterium longum e Lactobacillus rhamnosus com vitamina B6 em pacientes com diagnóstico médico de intolerância a lactose persistente, com dieta isenta de lactose.
Tratou-se de um ensaio clínico cruzado, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo que incluiu 23 voluntários adultos.
Os voluntários foram divididos em dois grupos: I (experimental – receberam B. logum 4 bilhões (BLH) de UFC, L. rhamnosus 1 BLH com Vitamina B6 1,4mg; II (controle).
O estudo incluiu um primeiro período de um mês de tratamento seguido por 15 dias sem tratamento e um segundo período de um mês de tratamento após o cruzamento, ou seja, o grupo que recebeu o probiótico no 1º mês, recebeu placebo no segundo mês, vice-versa.
As análises foram realizadas nos tempos 0, 30, 45 e 75 dias após o início do tratamento e incluíram avaliação dos sintomas clínicos, medidas antropométricas, análise da microbiota fecal e medidas relacionadas ao metaboloma.
Resultados
Comparado com o grupo placebo (II), a administração de probióticos e vitamina B6 diminuiu significativamente:
- o inchaço
- a constipação
O microbioma fecal diferiu entre os grupos experimental (I) e controle (II).
O grupo I promoveu aumento nas populações de vários gêneros microbianos envolvidos na digestão da lactose, incluindo Bifidobacerium. Além disso, a abundância relativa de ácido acético, ácido 2-metil-propanóico, nonenal e indolizina 3-metil aumentou, o que sugere aumento das populações de Lactobacillus e Bifidobacerium.
Por outro lado, o fenol diminuiu, sugerindo diminuição das populações de Proteobacteria (que inclui os gêneros Serratia, Enterobacter, Salmonella, Eschirichia, entre outros ) e Clostridiaceae.
O aumento de Proteobacteria e Clostridiaceae é indicativo de disbiose o que contribui para a permanência dos sintomas de intolerância a lactose.
Conclusão
De acordo com os resultados apresentados neste trabalho, o tratamento com Bifidobacterium longum e Lactobacillus rhamnosus e vitamina B6 pode ser útil para aliviar os sintomas em indivíduos com intolerância a lactose persistente por meio de uma modulação positiva da composição microbiana do intestino.
Referências
VITELLIO, PAOLA., GIUSEPPE, CELANO., LEONILDE, BONFRATE ., MARCO, GOBBETTI., PIERO, PORTINCASA., MARIA DE ANGELIS. Effects of Bififidobacterium longum and Lactobacillus rhamnosus on Gut Microbiota in Patients with Lactose Intolerance and Persisting Functional Gastrointestinal Symptoms: A Randomised, Double-Blind, Cross-Over Study. Nutrients, 2019.
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