Pregabalina para tratamento da dor

Pregabalina e os resultados satisfatórios para alívio da dor, opção a diferentes patologias

A pregabalina (PGB) é um fármaco anticonvulsivante, análogo do ácido gaba-aminobutírico (GABA) que liga-se a subunidade alfa-2-delta do canal de cálcio, sendo dependente de voltagem. O uso da pregabalina para tratamento da dor é possível pois a pregabalina diminui a liberação de neurotransmissores, incluindo glutamato, norepinefrina, substância P e gene relacionado à calcitonina.

É também efetivo para os diversos tipos de tratamentos de convulsões, e possui eficácia similar aos benzodiazepínicos e venlafaxina nas desordens de ansiedade. Entretanto, a pregabalina pode ser utilizada como um agente terapêutico no tratamento de etilistas, tanto na fase de abstinência quanto na prevenção de recaída (MARTINOTTI et al., 2013; SERPELL et al., 2017).

A dor neuropática é caracterizada pelo surgimento de lesão ou doença que afeta o sistema somatossensorial. É uma condição de dor crônica muito comum, possui diagnóstico difícil e o tratamento é dificultoso. Muitas opções de terapia estão disponíveis, porém alguns pacientes podem não responder bem a terapia. A pregabalina e os resultados satisfatórios para alívio da dor é uma opção a diferentes patologias, inclusive no tratamento da dor neuropática (SERPELL et al., 2017).

Redução da dor

Estudos apontaram o uso da pregabalina para reduzir a dor em pacientes com neuropatia diabética, neuralgia após lesões de pele devido a herpes zoster e em muitos afetados por fibromialgia. É semelhantemente efetivo para tratamentos de convulsões, e além disso possui eficácia similar aos benzodiazepínicos e venlafaxina nas desordens de ansiedade (MARTINOTTI et al., 2013; SERPELL et al., 2017; SALLAT et al., 2013).

A dor causada pela osteoartrite é amplamente considerada uma dor inflamatória. As fibras sensoriais nervosas, que inervam o joelho, têm mostrado ser significativamente danificadas, em que a junção do osso subcondral é destruída, o que induz a dor neuropática. A pregabalina foi investigada quanto a sua eficácia em pacientes com dor neuropática (OHTORI et al., 2013).

Estudos

Um estudo com 89 pacientes com osteoartrite (AO) no joelho, onde foram avaliados em 3 grupos (meloxicam, pregabalina e meloxicam + pregabalina), a avaliação foi feita antes e após 4 semanas de tratamento, utilizando escalas de dor. Antes do início do tratamento não havia diferenças entre os grupos, na escala de dor (OHTORI et a.l, 2013).

Houve um alívio significativo da dor, foi observada no grupo tratado com a associação (meloxicam + pregabalina), com 1 semana de tratamento, comparado aos outros grupos. Não houve alívio significativo da dor no grupo tratado apenas com meloxicam, comparado ao grupo tratado apenas com pregabalina. A associação foi eficaz e mostra-se segura para os pacientes com dor neuropática (OHTORI et a.l, 2013).

Um estudo comparou a eficácia analgésica e ansiolítica da administração de pregabalina e tramadol em pacientes no pré-operatório de laminectomia descompressiva lombar. O estudo incluiu 75 pacientes com idade entre 20-60 anos, em que foram divididos em 3 grupos, placebo, pregabalina 150mg e tramadol 100mg.

A pregabalina apresentou efeito analgésico estatisticamente significativo comparado ao placebo, mas o efeito foi menos prevalente quando comparado ao grupo tratado com tramadol (KUMAR et al., 2013).

O efeito ansiolítico também foi mais expressivo, sendo associado a menor efeito sedativo que com o uso de tramadol. O grupo tratado com pregabalina apresentou menos efeitos adversos que o tramadol, como náusea, vômito e sonolência. Os resultados deste estudo apoiam a utilização clínica da pregabalina no alívio da dor pós operatória, uma vez que é bem tolerada e, geralmente, apresenta efeitos adversos transitórios (KUMAR et al., 2013).

Dor neuropática

Blanco e colaboradores (2013) avaliaram o uso da pregabelina para tratamento da dor neuropática, mas agora em pacientes refratários a tratamentos anteriores, com outras drogas. 1670 pacientes previamente tratados ou não com outros fármacos, a não ser a pregabalina, foram tratados com pregabalina (37% em monoterapia).

Em 3 meses de tratamento, a intensidade da dor e sua interferência nas atividades foi reduzida pela metade. O tratamento com pregabalina (como monoterapia ou em combinação) promoveu alivio na dor e satisfação com o tratamento em pacientes com neuropatia diabética, incluindo casos refratários.

Foi avaliada a eficácia e tolerabilidade da pregabalina para o tratamento da dor neuropática central causada por danos na medula espinhal. Pacientes com dor crônica foram divididos para receber 150 a 600 mg/dia de pregabalina ou placebo por 17 semanas. A dor foi classificada em relação ao nível de lesão neurológica, definido como o segmento mais caudal da medula espinhal com função sensorial e motora normal, como acima, no nível ou abaixo do nível.

O tratamento resultou em melhora estatisticamente significativa na dor, comparado ao placebo. Os efeitos adversos ocorridos foram consistentes com o perfil de segurança conhecido da pregabalina, sonolência e tontura (CARDENAS et al., 2013).

Pregabalina e gabapentina

Pregabalina e gabapentina compartilham de um mecanismo de ação similar, a inibição do influxo de cálcio e posterior liberação dos neurotransmissores excitatórios, no entanto, os compostos diferem em suas características farmacocinéticas e farmacodinâmicas.

Um estudo comparativo demonstrou que a pregabalina administrada oralmente é absorvida mais rapidamente, com concentrações plasmáticas máximas obtidas no prazo de 1 hora (BOCKBRADER et al., 2010).

A absorção é linear (primeira ordem), com concentrações plasmáticas aumentando proporcionalmente com o aumento da dose. A biodisponibilidade absoluta de gabapentina cai de 60% para 33% na forma de dosagem entre 300 a 600 mg/dia, enquanto que a biodisponibilidade absoluta da pregabalina permanece maior ou igual a 90%, independentemente da dose (BOCKBRADER et al., 2010).

Pregabalina para tratamento da dor neuropática numa dosagem de 450 mg/dia possui efeito semelhante ao efeito máximo previsto de gabapentina. Como antiepilépticos, a pregabalina pode ser mais eficaz do que a gabapentina, com base na magnitude da redução na frequência de crises.

Concluiu-se que a pregabalina parece ter algumas vantagens farmacocinéticas distintas sobre a gabapentina que podem traduzir-se em um efeito farmacodinâmico melhorado (BOCKBRADER et al., 2010).

Um estudo duplo-cego avaliou a eficácia e tolerabilidade da pregabalina de dose flexível no tratamento de pacientes chineses com diagnóstico de dolorosa neuropatia diabética periférica (NDP) ou nefralgia pós-herpes (NPH).

Neste estudo de grupos paralelos, os pacientes foram randomizados na proporção de 2:1 e tratados com pregabalina de dose flexível, de 150 a 600 mg/dia, ou placebo correspondente de dose flexível durante 8 semanas (GUAN et al., 2011).

Um estudo foi feito com acompanhamento de 206 pacientes em tratamento com pregabalina. Resultou em uma melhora significativa quando comparada com o grupo placebo (102 pacientes), com diferenças mínimas de -0,6 (P = 0,005) na pontuação média.

No que se refere às taxas de resposta, 64% dos pacientes com pregabalina e 52% dos pacientes tratados com placebo, respectivamente. Os resultados do estudo sugerem que a pregabalina em doses diárias de 150 a 600 mg foi eficaz e bem tolerada em pacientes chineses diagnosticados com NDP moderada a grave ou NPH (GUAN et al., 2011).

A eficácia e segurança da pregabalina em neuropatia periférica diabética dolorosa e nefralgia pós-herpes e seus efeitos na interferência do sono foram investigados em uma revisão de novos ensaios clínicos, duplo-cego, randomizados e placebo-controlado, fornecendo dados de um total de 2.399 pacientes tratados duas ou três vezes por dia com pregabalina (75-600 mg/dia) ou placebo em um horário fixo ou flexível.

A pregabalina (150-600 mg/dia) foi bem tolerada e, além de seu benefício analgésico, pode diminuir a interferência da dor relacionada com o sono em pacientes com neuropatia periférica diabética dolorosa e nefralgia pós-herpes (ROTH et al., 2010).

Fibromialgia

A síndrome da fibromialgia é caracterizada como dor músculo-esquelética crônica e generalizada e dor acompanhada por distúrbios do sono, fadiga crônica e distúrbios afetivos. A sindorme da fibromialgia é freqüentemente associada a outras formas de doenças imuno-reumáticas (ANGELETTI et al., 2013).

Embora a patofisiologia dessa síndrome não esteja ainda totalmente compreendida, um número de desordens neuroendócrinas, neurosensitivas e de neurotransmissão podem gerar um mecanismo para a indução da dor por “sensibilização central”, que é comum a muitas outras condições dolorosas.

Estudos mostram que a associação de duas drogas, pregabalina e duloxetina, podem afetar sensivelmente os mecanismos moleculares da dor difícil, resolvendo assim, condições dolorosas de origem multifatorial (ANGELETTI et al., 2013).

Para comparar a eficácia, taxa de descontinuação e segurança de uma dose diária noturna (DN) de pregabalina ou duas doses diárias, no tratamento de 177 pacientes com fibromialgia, foi feito um estudo duplo cego, por 8 semanas, em triagem clínica para comparar os efeitos da administração de 300mg de pregabalina em dose diária, ou duas vezes ao dia.

Ambas as posologias reduziram significativamente a severidade da dor, mas os efeitos adversos foram mais frequentes quando administrados duas vezes ao dia (NASSER et al., 2013).

Dor pós-operatória

Um ensaio clínico duplo-cego, randomizado, realizado com 60 pacientes sob cirurgias de membros inferiores por raquianestesia, avaliou a administração pré-operatória suficiente da pregabalina, sua segurança no alívio da dor pós-operatória após cirurgia ortopédica dos membros inferiores, a redução da necessidade de opióides e seus possíveis efeitos colaterais (AKHAVANAKBARI et al., 2013).

Os pacientes foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos, um grupo recebeu uma cápsula de 150 mg de pregabalina 2 horas antes da cirurgia, e o outro grupo recebeu o placebo como controle. Em ambos os grupos de 2, 6, 12 e 24 horas após a cirurgia, os pacientes foram avaliados, e o escore de dor, a pontuação de sedação, a incidência de náuseas e vômitos foram registradas nas listas de verificação (AKHAVANAKBARI et al., 2013).

A escala analógica visual da dor em todas as horas no grupo da pregabalina foi significativamente reduzida em comparação ao grupo placebo (P <0,0001).

Com base nestes resultados, concluiu-se que uma única dose oral pré-operatória de pregabalina 150 mg é um método eficaz para a redução da dor pós-operatória e do consumo de petidina em doentes submetidos a cirurgia ortopédica (AKHAVANAKBARI et al., 2013).

Lesão medular

Parsons e colaboradores (2013) investigaram a eficácia e examinaram a segurança e tolerabilidade da pregabalina em doentes com dor neuropática central devido à lesão da medula espinal (LME). 174 pacientes receberam placebo e 182 receberam a pregabalina.

A alteração da linha de base da dor até o ponto final foi melhorada no grupo em uso de pregabalina em comparação com grupo em uso de placebo. Uma mudança na diminuição da duração média da dor foi melhorada em doentes tratados com pregabalina em comparação com o placebo (PARSONS et al., 2013).

A porcentagem de doentes que atingiram ≥ 30% e ≥ 50% de redução da dor na linha de base até o ponto final foi maior no grupo da pregabalina em comparação com placebo (placebo: 30% = 22,5%, 50% = 11,6; a pregabalina 30% = 35,6%, 50 % = 22,4%).

Com base nestes resultados, atestou-se que a pregabalina foi eficaz na redução da dor neuropática devido à lesão medular por um período de tratamento de 12 a 16 semanas (PARSONS et al., 2013).

Referências

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