SAME

S-adenosilmetionina (SAMe) e diferentes atuações e benefícios ao organismo.

S-adenosilmetionina (SAMe) é sintetizado naturalmente no organismo a partir de adenosina trifosfato e do alfa-aminoácido metionina. O SAMe parece aumentar os condrócitos e a espessura da cartilagem, e pode também diminuir o dano dos condrócitos induzido por citocinas entre outros benefícios.

O S-adenosilmetionina tem sido utilizado no tratamento da osteoartrite, bem como outras doenças tais como a depressão e a doença hepática (WILSON et al., 2008; GALIZIA et al., 2017).

S-adenosilmetionina (SAMe) possui diferentes atuações e benefícios ao organismo. Atua como um cofator ativo em diversas reações de metilação biológica, atua como um doador de grupos metil, está envolvido em diferentes funções celulares, incluindo a síntese e metabolismo de neurotransmissores, possuidno ainda potenciais efeitos epigenéticos (GALIZIA et al., 2017).

Hardy e colaboradores (2003) realizaram uma revisão abrangente da literatura e da síntese de provas sobre a utilização de S-adenosilmetionina (SAMe) no tratamento da depressão, osteoartrite e doença hepática. Os estudos analisados indicaram que SAMe é mais eficaz do que o placebo no alívio dos sintomas da depressão e da dor causada pela osteoartrite.

O tratamento com SAMe foi equivalente à terapia padrão para a depressão e osteoartrite.

Osteoartrite

Osteoartrite do joelho é uma condição comum incapacitante que afeta mais de um terço das pessoas com mais de 65 anos. Exercício, perda de peso, fisioterapia, injeções intra-articulares de corticosteróides e o uso de anti-inflamatórias não esteroidais, suportes ou cunhas de calcanhar podem diminuir a dor e melhorar a função (RINGDAHL & PANDIT, 2011; NAJM et al., 2004).

No tratamento da artrite estão normalmemente incluídos anti-inflamatórios e anti-inflamatórios não esteroidal (AINES), seu tratamento requer continuidade. A S-adenosilmetionina (SAMe) é um suplemento alimentar utilizado no tratamento dos sintomas da osteoartrite (OA), uma vez que consegue atuar no metabolismo de moléculas importantes como na síntese de proteoglicanos, conseguindo atuar com analgésica (NAJM et al., 2004).

O SAMe demonstra ter potencial para ajudar o corpo na regeneração do tecido da cartilagem, melhora as funções das articulações e reduz a experiência de dor na artrite reumatóide (KRZYSTANEK et al., 2011; NAJM et al., 2004).

Diversos efeitos

Segundo Najm e colaboradores (2004) os possíveis mecanismos do SAMe estão ligados a redução da inflamação, aumento da síntese de proteoglicanos e efeito analgésico. Seus efeitos sobre a terapia convencional para tratamento da oseoartrite parece ser superior, uma vez que melhora os sintomas ligados a funcionalidade e melhora da dor e possui menos efeitos colaterais.

Hosea Blewett (2008) aponta em estudo que ensaios clínicos mostram uma redução da dor e rigidez, enquanto os ensaios in vitro e em animais apresentam que o S-adenosilmetionina pode estimular a produção de cartilagem para reverter o processo da doença.

O SAMe tem efeitos anti-inflamatórios e analgésicos e tem sido avaliado para melhorar a dor e disfunção causadas pela osteoartrite (OA). Um estudo comparou a eficácia e tolerabilidade do SAMe 1200 mg/dia e nabumetona 1000 mg/dia em pacientes coreanos com OA do joelho.

Cento e trinta e quatro pacientes, todos asiáticos, foram distribuídos aleatoriamente em um dos dois grupos de tratamento, 67 pacientes (56 mulheres, 11 homens, com idade média de 63,9 anos) receberam SAMe 400 mg três vezes ao dia, e 67 pacientes (60 mulheres e 7 homens, com idade média de 62,1 anos) receberam nabumetona 1000 mg uma vez ao dia; ambos os tratamentos tiveram duração de 8 semanas.

Uma análise das mudanças na intensidade da dor entre as semanas 0 e 8 evidenciou que o SAMe reduziu efetivamente a intensidade da dor e o seu grau significativamente, promovendo alivio dos sintomas e consequentemente melhora na qualidade de vida do individuo (KIM et al., 2009).

Um estudo cruzado, duplo-cego e randomizado, comparou o SAMe (1200 mg) com celecoxib (Celebrex 200 mg) por 16 semanas para reduzir a dor relacionada com osteoartrite do joelho. Sessenta e um adultos diagnosticados com OA do joelho foram inscritos e 56 completaram o estudo.

Os indivíduos foram avaliados quanto à dor, a saúde funcional, o estado de humor, testes de função através de isométricas e os efeitos secundários. Com base nos resultados, concluiu-se que o SAMe possui um quadro clínico de início de ação mais lento, mas é eficaz no tratamento dos sintomas de osteoartrite do joelho (NAJIM et al., 2004).

Uma meta-análise de ensaios clínicos randomizados realizada por Soeken e colaborados (2002) avaliou em oito estudos a eficácia de S-adenosilmetionina em comparação com o placebo ou drogas anti-inflamatórias não esteroidais no tratamento da OA.

Quando comparado com o placebo, SAMe é mais eficaz na redução da limitação funcional em pacientes com osteoartrite, sendo assim, os resultados apontam que o SAMe é tão eficaz quanto as drogas anti-inflamatórias na redução da dor e melhora da limitação funcional em pacientes com OA, sem os efeitos adversos, muitas vezes associados com terapias de anti-inflamatórios (SOEKEN et al., 2002).

Doenças hepáticas

O SAMe é metabolizado no fígado, em S-adenosilmetionina pela metionina adenosiltransferase. O fígado é o local de maior proporção do SAMe, o Same exerce importantes funções no organismo, inclusive para a metilação de grande variedade de substratos (MATO et al., 2013).

O SAMe é especialmente importante em oposição a toxicidade dos radicais livres gerados por vários agentes patogênicos, incluindo o álcool, que provocam o stress oxidativo em em altas quantidades pela indução de citocromo e pelo seu metabólito de acetaldeído (PUROHIT & RUSSO, 2002).

O SAMe possui ação hepatoprotetora e, portanto, pode reduzir o risco do desenvolvimento de neoplasias, doenças do fígado induzidas pelo álcool e cirrose (KRZYSTANEK et al., 2011).

O SAMe atua como um regulador de diferentes funções hepáticas, no conteúdo hepático deve ter hosmeostase independentemente da ingestão regular de metionina, betaina e colina, sendo estes os únicos possíveis fornecedores de grupos metil para reações geradoras da síntese de meionina ou ligadas ao metabolismo de metilfolato (MATO et al., 2013).

Quando os níveis de metionina estão elevados, o SAMe age para promover sua redução por meio de metamolismo e síntese de homocisteina. O SAMe tem atuação no controle do fluxo de homocisteína nas vias de transsulfuração e remetilação, de modo que, quando alta, a homocisteína é canalizada através da via de transsulfuração, para formar cisteína e α-cetobutirato, e quando baixa é usada para formar metionina e regenerar o SAMe (MATO et al., 2013).

A manutenção da homeostase dos níveis de SAMe pode ser um alvo terapêutico no tratamento da esteato-hepatite não alcoólica (NASH), cirrose hepática alcoólica e não alcoólica.

Cirrose hepática alcoólica

O uso de SAMe apontou para uma maior sobrevida em pacientes com cirrose hepática alcoólica. Pacientes com cirrose hepática apresentam diminuição na funcionalidade das células hepáticas, provocando redução nos níveis de SAMe (MATO et al., 2013).

O SAMe tem potencial para tratar hepatite alcoólica por atuar como um precursor antioxidante da glutationa, reparar o sistema de transporte mitocondrial de glutationa, atenuar os efeitos tóxicos das citoquinas pró-inflamatórias e pelo aumento da metilação e a transmetilação de moléculas do organismo (PUROHIT & RUSSO, 2002; MATO et al., 2013).

O benefício potencial do SAMe no tratamento de doença hepática resulta de vários aspectos importantes de seu metabolismo. Nos mamíferos, até 80% da metionina no fígado, é convertido em SAMe. Glutationa hepática, a qual é dependente da metionina e do metabolismo da S-adenosilmetionina, sendo um dos principais antioxidantes envolvidas na desintoxicação hepática (BOTTIGLIERI, 2002).

Estudos experimentais e clínicos mostraram que a administração oral e parenteral de SAMe pode aumentar as concentrações de glutationa nas células vermelhas do sangue e no tecido hepático, e pode efetivamente recompor a quantidade de glutationa, em pacientes com doença hepática (BOTTIGLIERI, 2002).

Dor abdominal

Dor abdominal funcional (DAF) é um dos distúrbios gastrointestinais funcionais mais comuns em crianças. Atualmente, os médicos usam amplamente antidepressivos tricíclicos para tratar a DAF.

Os antidepressivos, no entanto, têm sido associados a um maior risco de ideação suicida e os efeitos colaterais que acompanham a terapêutica, o que muitas vezes limitam os benefícios. S-adenosilmetionina (SAMe) é um suplemento dietético que tem atuação semelhante a antidepressivo, podendo ser útil para o tratamento da dor crônica funcional (CHOI & HUANG, 2013).

Diante disso, um estudo investigou a eficácia do SAMe no tratamento da dor abdominal persistente. Oito participantes receberam SAMe com uma dose inicial de 200 mg/dia, com escalonamento para uma dose máxima de 1400 mg/dia no período de 2 meses. Seis participantes completaram o estudo.

O resultado demonstrou uma melhora nos relatos de dor durante o período de acompanhamento desses pacientes. Sendo assim, o uso de SAMe oral apresenta-se como uma opção terapêutica promissora na redução da dor abdominal em crianças com DAF, tendo este ainda reduzidos efeitos colaterais (CHOI & HUANG, 2013).

Depressão

Desde 1973, estudos clínicos realizados vêm apontando os efeitos antidepressivos do SAMe. Ao longo das duas últimas décadas seguintes, a eficácia do SAMe no tratamento de distúrbios depressivos foi confirmada em mais de quarenta ensaios clínicos (BOTTIGLIERI, 2002).

O SAMe é um suplemento dietético promissor, que pode ser utilizado com a finalidade de aumentar a eficácia do tratamento da depressão, em pacientes em uso de monoterapia com antidepressivos em estados depressivos leves ou com sintomas depressivos.

O S-adenosilmetionina, juntamente com drogas antipsicóticas, podem conduzir a uma melhoria da qualidade de vida e redução dos sintomas, principalmente a agressividade dos pacientes (KRZYSTANEK et al., 2011).

O SAMe tem sido estudado há mais de 30 anos e a maioria dos estudos sobre o transtorno depressivo maior concentraram-se em tratamento agudo. Dados de segurança a longo prazo no transtorno depressivo maior são limitados.

Porém, em relação à questão de risco/benefício, o S-adenosilmetionina pode ter efeitos benéficos sobre a dor associada com a osteoartrite e em algumas condições de fígado. Doses orais usuais do SAMe em transtorno depressivo maior foram entre 800 e 1600 mg por dia (NELSON, J.C., 2010).

Transtornos depressivos

Brown e colaboradores (2000) buscaram respaldo na literatura sobre o uso do SAMe em transtornos depressivos e conseguiram relatar que o composto e esta propriedade já havia sido relatado em:

    • 16 estudos abertos e não controlados (660 pacientes);
    • 13 randomizados, duplo-cego e placedo-controlados (537 pacientes);
    • 19 ensaios controlados comparando o SAMe com outros antidepressivos (1.134 pacientes).

 

Os efeitos antidepressivos significativos foram observados em todos os 16 ensaios abertos. Em 18 estudos controlados, o SAMe foi tão eficaz quanto a imipramina, clorimipramina, nomifensina e minaprina. Uma observação importante a partir desses estudos é que o S-adenosilmetionina teve muito menos efeitos colaterais do que os medicamentos convencionais (BROWN et al., 2000).

Transtorno depressivo maior (DM) é uma doença grave, altamente prevalente que tem um impacto significativo na saúde pública e funcionamento humano em todo o mundo.

Embora um grande número de medicamentos antidepressivos eficazes exista, é conhecido que uma proporção significativa de pacientes com DM não atingem a resposta e/ou remissão com terapias antidepressivas padrão, mesmo que de forma otimizada. Tal condição é chamada de resistência ao tratamento (ou refratário) da depressão (RTD) e representa um grande desafio no cotidiano da prática clínica (de BERARDIS et al., 2013).

Em determinado estudo foi investigado a eficácia do aumento do SAMe em pacientes com depressão resistente ao tratamento. Trinta e três pacientes ambulatoriais com episódio depressivo que falharam em responder a pelo menos 8 semanas de tratamento, com duas doses adequadas e estáveis de antidepressivos, foram tratados abertamente com uma dose fixa de SAMe (800 mg) durante 8 semanas associada a antidepressivos anteriormente em uso (de BERARDIS et al., 2013).

O parâmetro de avaliação principal foi a mudança da linha de base na pontuação total de Escala de Hamilton para Depressão (EHM-D). Em 8 semanas houve, uma redução significativa na pontuação EHM-D, aonde observou-se uma resposta benéfica em 60% dos pacientes e 36% deles tiveram remissão da doença.

Os resultados indicam que o aumento do mesmo pode ser eficaz e bem tolerado na fase II do tratamnto, em pacientes depressivos com resistência ao tratamento (de BERARDIS et al., 2013).

Setenta e três participantes que não responderam à terapia com inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) e diagnosticados com transtornos depressivos mais graves foram submetidos a um estudo de 6 semanas, duplo-cego, randomizado. Os pacientes receberam SAMe por via oral (800 mg/duas vezes ao dia) e continuaram a receber o seu tratamento com uma dose de ISRS estável durante todo o tratamento de 6 semanas. (PAPAKOSTAS et al., 2010).

O parâmetro de avaliação principais do estudo foi a taxa de resposta de acordo com a escala de avaliação de 17 itens da Escala de Hamilton para Depressão (EHM-D). Os resultados em relação ao EHM-D e taxas de remissão foram maiores para os pacientes tratados com SAMe (36,1% e 25,8%) do que o placebo (17,6% versus 11,7%).

Estes resultados sugerem que o SAMe pode ser uma estratégia de tratamento complementar eficaz, bem tolerado e seguro para pacientes que não respondem à terapia com inibidores da recaptação da serotonina (PAPAKOSTAS et al., 2010).

A disfunção sexual é um efeito secundário conhecido do tratamento com antidepressivos (TAD), afetando de 58 a 73% dos indivíduos que fazem uso de antidepressivos, o que potencialmente, afeta a adesão ao tratamento com antidepressivos. Por isso, é vital o desenvolvimento de novos tratamentos que visem redução da disfunção sexual induzida por antidepressivos (DORDING et al., 2012).

Um estudo randomizado, duplo-cego, investigou se o SAMe está associado a uma maior melhora no funcionamento sexual do que o placebo coadjuvante pela medição das mudanças no funcionamento sexual de medição utilizando o questionário de funcionamento sexual do hospital geral de Massachusetts (QFS-HGM) durante 6 semanas (DORDING et al., 2012).

Os homens tratados com SAMe demonstraram disfunção sexual significativamente menor em comparação aos que foram tratados com placebo. Além disso, controlado o grau de disfunção erétil na linha de base, bem como o grau de alteração na pontuações da escala HDRS-17, os homens tratados com SAMe demonstraram uma disfunção eréctil significativamente inferior que aqueles tratados com placebo.

No presente estudo, observou-se que o S-adenosilmetionina pode ter um benefício positivo na estimulação masculina e disfunção erétil independente da melhoria dos sintomas depressivos (DORDING et al., 2012).

Referências

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