A microbiota do ser humano normal engloba uma ampla variedade de microrganismos que possuem papel essencial
A frase “nenhum homem é uma ilha”, escrita por Jonh Donne, está certa de uma maneira muito singular. Nós nunca estamos sozinhos, estamos sempre acompanhados por um número surpreendente grande de microrganismos que colonizam as superfícies do nosso corpo e mucosa, sendo presente em número equilibrado não traz prejuízos à saúde. Conhecemos esses “aglomerados” por microbiota do ser humano.
(LOBO et al.,2016)
Apesar do ponto de vista antropocêntrico, que garante que somos organismos altamente evoluídos e autossuficientes, pesquisas com animais livres de microrganismos conta uma história diferente. Os microrganismos são fundamentais em cada etapa da nossa vida, e sem eles não seriamos capazes de sobreviver neste mundo.
(LOBO et al.,2016)
Recentes avanços em tecnologia de sequenciamento, deram a investigadores uma visão mais aprofundada sobre a relação simbiótica entre a microbiota intestinal e seu hospedeiro.
(PAREKH et al., 2015)
A microbiota do ser humano
A microbiota do ser humano normal engloba uma ampla variedade de microrganismos que possuem papel essencial na digestão, fermentação de substratos, manutenção do sistema imune, e na síntese de vitaminas e enzimas. Portanto, a atividade metabólica realizada pela microbiota intestinal se equivale a de um órgão.
(PAREKH et al., 2015)
A microbiota intestinal normal é formada principalmente por bactérias anaeróbicas, e por um baixíssimo número de bactérias aeróbias e facultativas, o total consiste em aproximadamente 500 a 1000 espécies conhecidas, sendo os dois filos mais abundantes Firmicutes e Bacterioidetes.
(SOMMER & BACKHED, 2013)
Ao longo do trato gastrointestinal (TGI) a distribuição da microbiota do ser gynbi aumenta em diversidade e quantidade (101 estômago, duodeno 103, 104 jejuno ,107 íleo, cólon 1012 células por grama). Cada segmento abriga uma microbiota específica.
O intestino delgado proximal possui principalmente bactérias aero-acidotolerante tais como Helicobacteraceae e Lactobacillaceae, ao passo que o cólon abriga bactérias estritamente anaeróbicas, como Lachnospiraceae e Bacteroidaceae.
(SOMMER & BACKHED, 2016; DONNENBERG, 2000; WILLING et al., 2010)
SOMMER & BACKHED, 2016.
A diversidade da microbiota do ser humano
Apesar de já existir uma extensa literatura sobre a diversidade da microbiota do ser humano, novas descobertas sobre sua implicação e contribuição em diversas funções fisiológicas acontecem frequentemente.
Ela está intimamente envolvida em numerosos aspectos da fisiologia do hospedeiro, desde seu estado e comportamento nutricional até sua resposta ao estresse. Além disso, podem ter uma relação central ou contribuir para o desenvolvimento de doenças, tanto em órgãos próximos, quanto os mais distantes (NAGPAL et al., 2014; SEKIROV et al.,2010).
O total equilíbrio na composição da microbiota do ser humano, assim como a presença ou ausência das principais espécies capazes de efetuarem respostas específicas, são importantes para garantir a homeostasia na mucosa intestinal e em outras regiões do corpo.
Desvios desta homeostasia podem induzir a uma alterações da microbiota do ser humano, como é mostrado em uma variedade de doenças, como diabetes, obesidade e doenças inflamatórias crônicas.
(SOMMER & BACKHED, 2016; DONNENBERG,2000; WILLING et al., 2010; SEKIROV et al., 2010)
SCHROEDER & BÄCKHED, 2016.
Portanto, depois das inúmeras descobertas sobre a influência dos microrganismos na saúde humana e consequentemente sua importância, estratégias vem sendo tomadas para modular a flora intestinal e com isso prevenir, tratar e reduzir sintomas de várias doenças relacionadas as estes microrganismos. Como exemplo, as terapias personalizadas com probióticos, que ganharam considerável interesse nos últimos anos.
(VIEIRA et al., 2016; VRESE & SCHREZENMEIR, 2008)
Os probióticos são definidos como microrganismos vivos, que quando administrados em dose adequada conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Os probióticos mais utilizados são as estirpes bacterianas de Bifidobacterium e Lactobacillus, no entanto outros microrganismos, tais como as leveduras Saccharomyces, também vem sendo amplamente comercializadas.
(VIEIRA et al., 2016; VRESE & SCHREZENMEIR, 2008)
A utilização de probióticos pode ter como alvo vários locais do corpo (boca, trato gastrointestinal, trato respiratório, trato urinário, pele, vagina, entre outros) ou ainda, visar subpopulações humanas específicas, indivíduos saudáveis, crianças, idosos, doentes e imunocomprometidos.
Existe uma gama extremamente diversificada de potenciais efeitos biológicos e novas atividades funcionais estão constantemente sendo exploradas
(VANDENPLAS et al., 2015)
Referências
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